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Por que preto correndo é ladrão e branco correndo é atleta?

Por Alice xavier


Faz mais ou menos 5 anos que ouvi essa frase e, em um primeiro momento, ela não me chamou tanta atenção como nos dias atuais. Percebo, com isso, que provavelmente houve um amadurecimento em meu ponto de vista e saída do senso comum, em não ver essas situações como rotineiras, banais.


Na época, recordo-me que a frase mencionava o caso de um estudante de Odontologia que, ao correr para alcançar o ônibus que o levaria para a faculdade, foi morto, sem motivo algum, por policiais que, ao verem correndo, dispararam sem ao menos saber o porquê e por acharam que o jovem estivesse fugindo de um suporto furto. O fato, salvo engano, aconteceu em Brasília, no Distrito Federal.


Estranho seria se tal fato tivesse ocorrido com um jovem universitário branco, não é mesmo? Será que policiais diriam que pensaram que ele estava exagerando na corrida e por isso resolveram pará-lo?


A forma como os policiais abordam essas pessoas são evidentes e, além disso, caso essa abordagem ocorra em locais afastados ou no turno da noite, a chance de terminar em agressão ou morte é ainda maior. Não dá para entender os dados que dizem que a maioria dos policias militares são negros. Além disso, há sempre o discuso do oprimido que vira opressor, mas até quando iremos viver com esse suposto senso comum que justifica as inúmeras mortes que ocorrem todos os dias, principalmente nas grandes cidades? O que vamos dizer também sobre os argumentos de que o crime não está relacionado a cor, que o negro só não é melhor porque não quer, ou porque se vitimiza? Quando, finalmente, iremos aprender que dados são fatos e contra fatos não há argumentos?


Hoje pela manhã vi mais uma cena: um homem negro, um bairro periférico, abordagem policial. Incomoda, incomoda muito. Ah, sei que ainda podem contra-argumentar: deixa o policial trabalhar, caso o suspeito seja um bandido, ele poderia fazer mal a você ou a alguém que você gosta. Sim, concordo, e até agradeço o trabalho dos policiais que zelam pelo nosso bem-estar. Só continuo incomodada quando observo que um homem branco, bem vestido e em bairro de classe média não passa pelos mesmos tormentos.



É intrigante ler os inúmeros relatos nas redes sociais, local em que todos têm voz, mas pouco conhecimento, com discursos dizendo que "Direitos Humanos defendem bandidos"; "errou tem que pagar"; "bandido bom é bandido morto", entre argumentos baseados no consenso. É intrigante observar o "enorme" conhecimento de Direitos Humanos e até mesmo de Direito Penal, Direito Civil, da Constituição Federal que essas pessoas têm. Elas certamente não se recordam que tais leis também preconizam o direito à educação, o direito à saúde, à moradia, entre tantos outros direitos que são violados todos os dias. Mas ninguém se incomodam, pois "político é tudo igual", "o Brasil começou errado e sempre vai ser assim". Entretanto, quando alguém erra precisa cumprir com os seus deveres.


É necessário que as pessoas pensem, se incomodem, vejam fora da caixinha. Não dá para fingir que isso é normal. Até quando iremos defender a ideia de que branco correndo é atleta e pedro correndo é ladrão? Há até dicas na internet de como esse grupo de pessoas deve se comportar diante de situações que podem comprometer seu direito primordial a vida. Até quando?





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