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o que gera a intolerância religiosa é a falta de conhecimento

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"Filho(a) do diabo", "homem-bomba", "macumbeiro(a)" e muitos outros xingamentos são apenas pequenas demonstrações de como julgar o próximo por sua religião. Sem contar que esses julgamentos muitas vezes acontecem também por meio de violência física. Essas atitudes caracterizam a intolerância religiosa, criminalizada por lei constitucional desde 1988. Por ser um Estado laico, o Brasil tem o dever de garantir a liberdade religiosa, assegurado no artigo 5º, inciso VI, da Constituição: "É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias".

 

Por sua pluralidade cultural, o Brasil hoje conta com adeptos das mais variadas crenças. Segundo o censo de 2010 do IBGE, o catolicismo lidera o ranking de religiões mais cultuadas no Brasil com cerca de 64,6% de adeptos, seguida pela crença evangélica, com 22,2%, espirita kardecista com 2%, religiões de matrizes africanas com 0,3% e outras religiões contabilizam 2,7% da população do país.

 

Essa intolerância pode se manifestar de várias formas, como afirma o Professor do Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), Volney Berkenbrok. Segundo ele, existe a intolerância pregada por líderes religiosos fanáticos, intolerância contra os símbolos de religiões; há também a intolerância religiosa que se manifesta em atos de violência ou até por via política, onde partidos e pessoas se utilizam de um discurso intolerante para angariar apoio e votos.

 

Para o professor Berkenkrok não existe um motivo específico que justifique os atos de intolerância religiosa. O que há é um conjunto de razões; heranças históricas de preconceito com determinadas religiões e que acabam refletindo ainda nos dias atuais. Como no caso das religiões não cristãs que foram perseguidas em toda a história do Brasil, o que criou uma cultura de intolerância frente a essas manifestações.

 

Outro motivo que pode influenciar em atos do tipo é a própria religião. De acordo com Volney, pessoas creem que estão salvas em suas religiões e, para alguma delas, tentar destruir a outra é fazer um serviço divino ou religioso. “A compreensão religiosa destas pessoas é de tal tipo, que os ataques não apenas se justificam pela fé, mas entendem que sua fé os impulsiona a destruir o outro, que é visto como o mal. Na consciência religiosa fanática destas pessoas, estes ataques são uma espécie de necessidade da fé”, afirma o professor.

 

Volney Berkenbrok também cita as motivações políticas. “Estamos vivendo um recrudescimento de posições políticas xenófobas, de extrema direita, que pretende expulsar e perseguir tudo o que é considerado diferente. Esta mudança de cenário político faz com que - por exemplo - ataques a templos religiosos não sejam reprimidos pela força da lei. A instância política é tolerante com este fanatismo religioso e apenas lamenta - quando muito - estes ataques”

 

Os motivos culturais se manifestam na atual sociedade em que a ideia da individualidade é muito presente. Como explica o professor, “Se o indivíduo pode tudo: expõe nas redes sociais suas opiniões (mesmo que esdrúxulas), e isto é tido como direito conquistado, acha-se no direito de ele mesmo dizer como o mundo deveria funcionar (sem qualquer consideração histórica), etc.”

 

Há também motivos racistas, pois não somos um país onde se tenha superado o racismo. Segundo Volney, “o racismo escondido por força de uma pressão social, num ambiente de pós-modernidade vem à tona como uma espécie de direito de pensar, dizer e agir. “

A Constituição brasileira, promulgada em 1988, garante a liberdade de crença e culto (artigos 5º e 19º). O artigo 210º, parágrafo 1, considera a educação religiosa como uma disciplina opcional sendo administrada por escolas públicas de nível básico. A lei n.º 7716, de 1989, criminaliza a discriminação baseada na raça, cor, etnia, religião ou nacionalidade. Para o professor de ciência da religião, Volney Berkenbrok o grande problema do ensino religioso é quando certas atitudes são tomadas por parte das autoridades responsáveis para fazer cumprir o que a lei prescreve. “Há estados e municípios, que viram nesta legislação a possibilidade de ensinar na escola suas próprias convicções religiosas e criaram então uma legislação prevendo o "ensino religioso confessional", ou seja, a disciplina Ensino Religioso passou a ser administrada por agentes religiosos”, afirma o professor.

 

Por outro lado, o professor afirma que se implantado da forma que está previsto na lei, o ensino religioso é uma forma de trazer conhecimento sobre todas as religiões, contribuindo para a harmonia entre diferentes crenças. “Neste sentido, preocupam-se em implantar o Ensino Religioso como área do conhecimento. Como, por exemplo, a disciplina História leva o aluno a conhecer a história do Brasil, do Estado, do Município… O Ensino Religioso leva o aluno a conhecer as religiões: suas tradições, suas compreensões, seus modos de pensar, etc.”

 

O professor ainda completa dizendo que este seria o modo mais eficaz de ministrar o ensino religioso e consequentemente, a melhor maneira de combater a intolerância religiosa. Porém, ele afirma que, para que isso aconteça, é necessário que haja uma formação correta para os profissionais que forem ministrar a disciplina nas escolas. “Como para alguém ministrar Matemática na escola, precisa ter feito licenciatura em Matemática, que formação deveria ser requisito para ser professor de Ensino Religioso? Seria necessário uma formação específica, que ainda é oferecida em poucos lugares do Brasil.”

 

Chris Assis é graduada em Pedagogia, mestranda em Educação e graduanda em Ciência da Religião. Ainda na primeira graduação trabalhou por um ano no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) de Ensino Religioso. Realizou atividades na Escola José Freire, um colégio público do Bairro Industrial, em Juiz de Fora, trabalhando com uma turma de 2º ano do Ensino Fundamental.

 

Para Chris, uma vez que a religião está inserida na sociedade, ela deve ser tratada de forma antropológica e não ser ignorada na escola. Ela considera fundamental levar esse conhecimento para o espaço de ensino, trabalhando todas as crenças com respeito, inclusive falando sobre quem não tem religião. “Eu não estava ali pra saber da religião de ninguém e nem para falar sobre a minha religião. Entendo que cada um vai seguir o caminho que acha mais certo e que vai te fazer melhor.”

 

Em sua experiência pedagógica, Chris abordava diversidade de crenças e direito de escolha particular sobre as manifestações de religiosidade. “O educador e a escola precisam perceber que não são o centro do mundo e não devem abusar do poder que têm de transmitir certas coisas ao aluno”. Tomando como base, a atenção e o respeito a cada história de vida, cada ser humano e englobando a comunidade escolar no trabalho, ela conta que falava sobre diversas religiões para provocar nas crianças reflexões acerca do tema.

 

A metodologia de trabalho foi parte importante do processo de aprendizado e contou com jogos e brincadeiras para levar conhecimento de forma lúdica. Chris, que também atua com arte e graffiti, produziu um bingo e jogos de cartas, que chamaram a atenção das crianças. Depois do sucesso em sala de aula, a professora já apresentou o método também em outros espaços. Além disso, a pesquisadora explorou a interdisciplinaridade, inserindo no trabalho figuras importantes do movimento negro para falar do Islã, por exemplo, o que levou ao conhecimento das crianças sobre personalidades como Malcom X e Muhammad Ali.

Para regulamentar melhor a questão do Ensino Religioso Escolar, o Conselho Nacional de Educação conduziu todo um processo de esclarecimento sobre os conteúdos curriculares desta disciplina. E no ano de 2017 foi regulamentado os parâmetros curriculares para o Ensino Religioso, colocando-o como área do conhecimento. “Com isto, certamente nos próximos anos, estados e municípios terão que se adaptar à nova legislação”, afirma Volney.

Fonte: Robson B. Sampaio // Visualhunt

A umbanda e o candomblé são hoje umas das maiores religiões praticadas no país, sendo o candomblé a mistura dos ritos trazidos pelos negros escravizados, e a umbanda nascida no Brasil, há exatos 110 anos. Somadas, as religiões de matrizes africanas possuem um número de mais de 3 milhões de adeptos, segundo o censo de 2010 do IBGE.

Ainda é muito comum vermos notícias de terreiros de umbanda e candomblé sendo depredados em diversos locais do país. Na última terça-feira, 28, o Jornal Correio, divulgou dados da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), que registrou 135 casos de intolerância religiosa na Bahia entre 2013 e 2018, revelando também que o número de casos registrados apenas neste ano (29 casos), já supera os 12 meses do ano passado (21 casos).

 

A instituição ecumênica KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, trabalha desde 2010 com o Dossiê da Intolerância Religiosa, onde noticia diversos casos de intolerância pelo país. Através de dados coletados, a instituição montou um mapa dos locais com maior número de violência no país entre 2008 a 2017.

Janaina Honorato é praticante da umbanda há 30 anos e possui um terreiro em Juiz de Fora, no bairro Borboleta, há 7 anos. Ela afirma que no início sofreu muito preconceito dos moradores do local, por seu centro se localizar no salão de festas de um condomínio residencial - “foi muito difícil estruturar no início, houve muito preconceito, o pessoal não conseguia aceitar um centro espírita umbandista dentro de um conjunto residencial, então a luta foi muito grande, a recepção foi negativa até que a gente foi se afirmando no nosso trabalho”.

 

Apesar de já conhecida no bairro por sua atuação no centro, ela relata que alguns ainda fazem comentários criticando sua religião - “aqui dentro do bairro eu sempre fui muito respeitada. Às vezes, as pessoas de outras religiões, em especial os evangélicos, é que apontam ‘aquela ali que é a líder do terreiro, a líder que faz a comunicação com o diabo’, essas situações. Mas graças a Deus eu nunca fui excluída pela minha religião”.

 

“O que gera o preconceito, é a falta de conhecimento!” - defende. “A maioria das pessoas, principalmente as que moram aqui no conjunto, não sabiam o que era um centro espírita umbandista. Todo mundo leva aquela primeira impressão, fazer o mal, principalmente quando tem o atabaque, quando tem os trabalhos com os rituais, que na minha casa são todos com o trabalho ritualístico de umbanda. Então, quando a pessoa não entende o que é isso, fica sempre aquela impressão de que a umbanda, de que o terreiro de umbanda é para fazer o mal”

 

A advogada Camila Peres também é praticante da umbanda e relata já ter sofrido preconceito dentro de casa. “Acho que sempre tem algum momento da nossa vida que, quem é umbandista/candomblecista passa por algum episódio de preconceito. No meu caso, o preconceito veio justamente de alguém da minha família não sendo apenas uma única vez, o que eu acho que é mais triste do que um desconhecido.”

Camila ainda aconselha a quem sofre perseguições religiosas e quem ataca qualquer religião a buscar uma visão melhor de mundo. “A gente tem que buscar conhecer qualquer coisa antes de acreditar no que ouvimos. Antes de propagar o ódio, a mentira, busque estudar. As religiões africanas tem fundamento. Temos que nos impor, sem agredir.”

Fatores políticos, culturais, religiosos,

históricos e racistas

ensino religioso

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