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Cacilda: a fada madrinha de todas as noivas

As pessoas pensam que fadas madrinhas existem apenas em contos de fadas, mas, na vida real, há pessoas que tornam os sonhos das outras realidade. Cacilda Costa pode não ter asas, nem varinha de condão, porém, com sua baixa estatura, seus olhinhos tranquilizadores, sua voz doce, sua euforia contida e mãos de fada, costura vestidos de noiva há mais de 30 anos.

Não demorou para que ela começasse a fazer suas próprias roupas, chamando a atenção de suas amigas, que também queriam peças customizadas. Entretanto, sua mãe não a deixou abandonar os estudos. Ela podia fazer o que gostava, mas não podia deixar a educação de lado.

Eu era louca para fazer uma roupa. Eu via um pano e já imaginava o vestido.

Cacilda Costa

Costureira

Quando criança, em Matias Barbosa, dona Cacilda costurava roupinhas para suas bonecas, na máquina de sua irmã. Após furar o dedo, ganhou da avó um modelo mais simples e antigo, dando início à sua ligação com a costura.

Minha mãe quase me matando: Você vai estragar a roupa dos outros!

Ela concluiu o Ensino Fundamental II cursando as aulas à noite. Durante o dia, fazia um curso de modelagem. No colégio, as formandas começaram a pedir para ela costurar os vestidos que usariam no baile.

Por muitos anos ela fez peças para lojas em Juiz de Fora, como Arpel, Bruna, Balancê, Bel e várias outras, tanto na parte de jeans, quanto na parte de festas. Até que decidiu abrir sua própria loja, após se casar e mudar para a cidade.

Em seu apartamento na rua Gil Horta, Cacilda começou a atender clientes na sala da frente, porém, houve uma proibição do prédio que a impediu de continuar o negócio em casa. Foi quando uma amiga se uniu à ela. Montaram uma loja na antiga avenida Independência, em frente à Maxi Pão.

Esta amiga era casada com um piloto de avião e trazia o material para ela costurar do exterior. Com o sucesso da loja Estilo Noivas, outras costureiras foram sendo contratadas pelas sócias.

Como todo conto de fadas, sempre há os vilões, que impedem o “Felizes para sempre”!  A loja foi assaltada três vezes, deixando os 12 funcionários do estabelecimento apavorados. Se somando a isso, sua sócia precisou deixar Juiz de Fora, e dona Cacilda optou por não continuar sozinha com uma loja tão grande.

Por um período de seis anos, ela ficou com a loja na avenida Rio Branco, em cima da Casa Lotérica Tenta Sorte. Nessa mesma época, ela comprou um apartamento maior, onde instalou sua confecção, situada na Olegário Maciel.

Nos últimos dez anos, ela tem recebido suas clientes em uma lojinha no Marechal Center. Os atendimentos são preferencialmente com hora marcada e para entrar é preciso tocar a campainha. Visivelmente, os assaltos deixaram um trauma com relação à segurança.

O primeiro vestido de noiva

Ainda morando em Matias Barbosa, uma amiga de Cacilda não tinha condições de comprar um vestido de noiva. A avó da moça havia feito o vestido da mãe de Cacilda, o que a encorajou a costurar seu primeiro modelo para noivas.

Levando em conta todos os laços emocionais que a ligavam à menina, ela se emocionou ao vê-la entrando na igreja com sua primeira criação. Cacilda conta sua reação e se emociona até hoje com a recordação.

Fazendo o próprio vestido

Há 38 anos atrás, junto com uma amiga, Cacilda comprou o tecido e materiais para confeccionarem um único vestido de noiva, que foi usado pelas duas. Ela casou em maio, sua amiga em julho. O vestido teve que ser ajustado,  porque sua amiga era mais baixa que ela.

Sua mãe voltou a alertá-la, dizendo que daria azar, sendo ignorada por Cacilda.

Lidando com pedidos

Dona Cacilda conta que sua irmã, Decilda, é craque em lidar com pedidos extravagantes, dando dicas de qual modelo fica melhor para cada silhueta.

Segundo ela, é necessário ter jogo de cintura com as clientes: às vezes elas pedem pedrarias e adereços brilhantes em seus vestidos para casamentos e festas, que serão durante o dia. É quando entram em ação todos os poderes de persuasão das irmãs.

Elas realizam o sonho da noiva ou formanda, sempre levando em conta o contexto. “Fazemos elas experimentarem o vestido que sonham, mas  mostramos também um que se adequa melhor ao horário, local, situação e ao corpo delas. Assim, não somos mal educadas e elas veem com os próprios olhos a diferença, para tomarem uma decisão.”

Quando homem dá pitaco

Hoje, o noivo estar presente na prova do vestido já não é um tabu. Porém, Cacilda relembra um caso recente, no qual o noivo e o pai da noiva decidiram interferir no vestido que seria usado pela mãe da noiva.

Do vestido inicial até o que foi usado no dia do casamento, foram colocadas tantas pedras e strass, que o modelo ficou pesadíssimo e dona Cacilda se recusou a ser creditada como a costureira responsável.

O reconhecimento de seu trabalho

Por estar realizando o sonho das noivas, dona Cacilda cria vínculos com elas e acaba indo em muitos casamentos. Nas festas, muitos convidados vão até ela para conhecê-la e elogiá-la por seu trabalho. Cacilda conta que, “Na segunda-feira, ganhamos muitos presentes, pois as noivas voltam aqui e trazem lembrancinhas ou vêm apenas para agradecer.”

Nas festas,

toda hora um vem na sua mesa,

toda hora.

Ela relembra também quando realizou o próprio sonho, costurar um vestido de noiva preto. A parte de cima do vestido foi totalmente de renda na cor preta e a saia branca, ao passo que as madrinhas tinham os vestidos preto com bolinhas brancas.

A amiga invejosa

A costureira aconselha que no momento da prova ou da escolha, a noiva leve apenas pessoas de confiança. Cacilda afirma que vê de tudo em seu ateliê, desde mãe que quer ficar mais bonita que a filha, até amiga que toma o vestido para si, depois de dizer que estava "feio" na noiva.

Ela relembra um episódio no qual a noiva encontrou o vestido ideal, mas a amiga criticou a peça e a convenceu a levar um outro modelo. Dias depois, a “amiga” voltou à loja para pegar o vestido que não deixou a noiva levar.

Nesta situação, Cacilda ficou tão chocada que até contou para a moça o que tinha acontecido e se empenhou em fazer um vestido exclusivo para ela, e foi ao casamento para assistir a reação da amiga invejosa.

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