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Apesar das dificuldades, Vilma não tira o sorriso do rosto

Vilma Cristiana de Oliveira Rodrigues. Nascida em Juiz de Fora, seu lar era mais a rua do que a casa onde foi criada. Aos 12 anos, Vilma já se juntava a outros em situação de rua e dormia nas praças. Ia e voltava para casa, mas não gostava de ficar lá. Hoje mudou, mudou muito. Com 35 anos, é casada e missionária da Igreja Pentecostal. Diz que está sempre pregando a bíblia, passando a palavra para quem precisa, e que já foi uma dessas pessoas.

 

Segundo ela, na casa onde morava não tinha sossego por causa de seus irmãos. O motivo ela não gosta de lembrar. Disse que brigavam muito, mas ainda tinham laços. Conta que o mais velho faleceu pelo excesso de bebida. Desde jovem já bebia muito. “Eu dava almoço, janta, dava tudo para ele. Depois que perdemos a mãe aí que ele enchia a cara mais ainda. Bebia cerveja e pinga, e quando não tinha pinga, jogava álcool em cima. Com 40 anos ele morreu”. Seu lugar era na porta dos botecos, ao contrário de Vilma, que seu vício eram as ruas. Sobre pai e mãe: silêncio. 

Passou fome e frio, mas, segundo ela, graças a Deus não se envolveu com drogas ou álcool. “Passei muita fome, muitas dificuldades. Já comi banana verde. Empurrava pra dentro porque não tinha o que comer”. Pegava pra estudar, mas não gostava muito, enrolava mais do que estudava. Continuou por um tempo pelo apoio de sua amiga preocupada, que chegou a chamar carinhosamente de mãe. Agora parou de vez. Ela conta que teve muitas lutas e cada dia vencia uma.

“Fiquei muito tempo na rua. Muitas pessoas me chamaram pra igreja, mas só depois de algum tempo eu dei ouvidos. Comecei a ir e eu to lá até hoje. E eu tô na obra, graças a Deus sou uma missionária”

Filho mais velho de Vilma, enquanto ainda criança.

“Eu aceitei Deus e dei um basta. Voltei para casa, mas ninguém queria saber mais de mim”. Tentou ir de novo para casa, mas foi expulsa pela irmã. Depois disso foi parar no orfanato São Pascoal, de onde logo fugiu. Ela conta rindo sua debandada pelo portão. Não gostava das exigências e castigos, preferiu voltar para rua.

Casou aos 18. O marido foi apresentado pela cunhada, que era sua amiga na Igreja Universal. A história aconteceu de forma curiosa. Vilma havia recebido 10 sacos de cimento da prefeitura e pediu a Joaquim, servente de pedreiro, para que a ajudasse na construção de sua nova casa. Sem pedir nada em troca ele apareceu e ela conta que já de cara estava gostando dele e lhe “tascou logo um beijo. E ele acabou ficando até hoje”.

 

Com os mesmos 18 anos teve 3 filhos, sobre quem não conta muito, Felipe, com 18, e os gêmeos que vão fazer 17. Nenhum mora com a mãe. “Eles moram perto da minha casa, não têm muita convivência comigo não”. A guarda é outra luta que Vilma tem, mas essa com a justiça. Ela diz que uma antiga amiga não queria que as crianças vivessem em más condições, e acabou inventando mentiras para que os meninos ficassem com ela. “Ela dizia que eles eram muito pequenos e que eu deveria deixar eles dormirem por lá. Usaram os meninos para mandar falar que eu fiz mal a eles. E eu tenho que provar na justiça. É a boca deles contra a minha”.

Muito humilde e sem reboco por dentro e por fora, a casa de portão verde tem o número 21 pintado à mão. O terreno foi herdado de sua avó, passando pela mãe e por seu falecido irmão. “Cada tijolo aqui tem uma história. Isso tudo aqui fui eu que fiz. Cada tijolo é eu e meu marido. Eu faço a massa e ele coloca na parede. E ainda está em obra.”

 

Hoje, ela ri da ironia. Gosta mais de ficar na sua casa do que fora dela. Conta que viaja para tudo quanto é lugar e nem sabe onde vai mais. “Onde Deus mandar eu estou indo. Só vou na rua para fazer as obras. E não vou parar mais não”.

 

Quando perguntada sobre o que a deixa mais feliz responde sem hesitar: “Tudo. Não tem outro caminho porque não existe outro caminho. Na palavra de Deus diz: conhecerei a verdade e a verdade vos libertará. Então, fui libertada de tudo”.

 

Ela brinca enquanto nos despedimos: “Essa casa está sempre em obra, igual igreja”. E sorrindo, Vilma continua seguindo.

Os passos de Vilma

Os passos de Vilma

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