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A arte do viver


Senhor Gil em seu ofício diário do artesanato. FOTO: Reprodução

Por Alice Xavier e Ezequiel Florenzano


Gil Nunes, nascido de parto normal, no bairro da Penha, na cidade do Rio de Janeiro, irmão mais velho de uma família de quatto pessoas, relembra os vários percursos que percorreu até entender o que realmente importa em sua vida.

Hoje, perto de completar 78 anos, no dia 21 de agosto, ressalta que não se arrepende de tudo que já viveu: da infância solta, da vaidade, da adolescência e dos estudos nos primeiros anos em um colégio particular.


Ainda em 1952, depois de um atrito entre seu pai e sua mãe, o padrão de vida da família começou a mudar. Sua mãe, ele e seu irmão foram para o bairro da Saúde, morar com seus avós, ainda no Rio de Janeiro. Nesse mesmo dia, sua mãe revelou para os filhos que apanhava do pai deles há muito tempo, embora Gil nunca tenha suspeitado.


Com os pais separados, teve que deixar de estudar em escola particular, já que sua mãe pediu para que ele aprendesse uma profissão. Mesmo aborrecido, decidiu fazer o curso técnico em mecânica no Senai, afinal, segundo Gil, todo menino da época queria essa profissão. Assim, entre as várias opções, escolheu ser mecanotipista (nome que se dava a quem trabalha em qualquer das máquinas de compor), apesar de não saber o que era.


Com dois anos de Senai, começou a trabalhar na tipografia da revista “O Cruzeiro”, onde ajudou a escrever a história do país. Nesse tempo, relatou que conseguiu subir de vida, ser respeitado na redação e fazer amigos, chegando a receber 10 salários mínimos, além de exercer seu ofício junto à empresa de comunicação mais importante do país, naquele período, os Diários Associados.


Era um super salário, umas das profissões mais bem pagas da época. Hoje ela é uma profissão extinta, que se transformou em fotocomposição por meio do uso do computador. Eu, com aquele dinheiro todo, era farra todo dia. Chegava em casa, colocava o paletó e saía. Nessas farras, o contato com o álcool era frequente.

Com isso, seu prestigio foi caindo. As ausências frequentes no trabalho, levaram à demissão. Mesmo assim, ainda trabalhou no Jornal O dia, na revista Manchete e até no ramo de calçados, como vendedor, mas a bebida estava sempre presente, passando de amiga das noitadas a inimiga de sua vida, com uma presença cada vez mais forte.

Fui o causador da minha derrota. Durante quarenta anos minha vida foi entregue ao alcoolismo. Desespero, desprestígio e falta de confiança. Perdi trabalho, amigos, união e me tornei um morador de rua.

A doença fez com que perdesse o emprego, e que não conseguisse se estabilizar em mais nenhum. Tentou em vários jornais e até em outros ramos. Mudou do Rio e foi para Campo Grande. Com dívidas, deixou a cidade mato-grossense e veio para Juiz de Fora. Em Minas, não tinha parentes, vivia em albergues ou na rua, sempre bebendo. Durante esse tempo, perdeu a visão de um dos olhos e sobrevivia catando latinhas. Em suas andanças de Juiz de Fora a Santos Dumont fez um amigo falou sobre o Hospital São Camilo de Lélis. Lá, ficou internado, mas ressaltou que ainda não conseguiu se encontrar, pois estava perdido em meio ao alcoolismo. Assim, pediu alta e voltou para o Rio.


Entre idas e vindas, restruturava sua vida, arrumava emprego. Porém, o vício sempre voltava com força . Depois de várias tentativas frustadas, voltou ao hospital (hoje, Casa São Camilo De Lélis).

Através do Sr. José Geraldo Pereira, irmão da presidente do hospital, Dona Marilda, Gil começou a frequentar as reuniões dos Alcoólicos Anônimos e entendeu que o alcoolismo era incurável, mas, ainda assim, com muito esforço, venceu a batalha e está sóbrio há quase 10 anos.

Ali, aprendeu o ofício do artesanato com um interno. Hoje, diz que vive com o pouco que tem, mas construindo uma riqueza em seu interior Atualmente, podemos encontrar o Senhor Gil na entrada da Casa São Camilo, em uma sala fazendo seus trabalhos de artesanato, ouvindo rádio ou vendo TV, sempre disposto a contar sua história de superação.


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